No contexto das discussões em torno da Educação a
Distância a questão da comunicação e da interação é entendida como aspecto
fundamental para o sucesso dessa modalidade de educação.
Nessa perspectiva, surgem os ambientes virtuais de aprendizagens, com recursos
que potencializam a interatividade nos processos educativos. Vale ressaltar que
a utilização dos ambientes virtuais de aprendizagem por si só não garantem uma
modificação da lógica da "transferência de conhecimento", é
necessário que a proposta pedagógica definida para uso destes ambientes supere
esta lógica da transmissão-recepção; já que estes espaços possuem como
característica própria à interatividade, a possibilidade de interconexão entre
sujeitos das diversas parte do globo, a troca de informações e a construção de
trabalhos coletivos; eles fazem parte de um mundo sem fronteiras, com muitas
possibilidades abertas a serem exploradas.
No contexto atual da EAD algumas mudanças são
evidentes, porém, são mudanças que vão desde a troca do suporte midiático (da
apostila impressa para um site na internet até propostas inovadoras que
potencializam as possibilidades do ciberespaço, com a idéia de uma educação para
liberdade. Nesse sentido a EAD possui algumas especificidades, e, portanto,
necessita estar fundamentada em propostas que potencializem a interação, a
colaboração e a cooperação dos alunos entre si, não apenas com acesso a
informações e conteúdos, mas, sobretudo, com trocas, discussões,
compartilhamento de experiências fazendo parte do processo de aprendizagem.
Nesse sentido, abordaremos as características de
alguns modelos perceptíveis na educação a distância, fundamentando-nos pela
categorização dos modelos trazidos por Ropoli et al (2002)
- O modelo instrucional - apresenta como base a transmissão de informação e conteúdo, prevê pouca participação do professor ou tutor e não utiliza estratégias colaborativas no processo de aprendizagem. Na realidade este modelo caracteriza-se por ser auto-explicativo, acompanhado de textos escritos de forma dialógica, testes online, com interface bem elaborada e com elementos gráficos. Apresenta como característica própria não explorar a utilização de espaços colaborativos para troca de informações e experiência. Os conteúdos são transmitidos para um aluno passivo, que não tem a possibilidade de questionar ou interferir na informação recebida. Em outras palavras, podemos dizer que neste prevalece a educação bancária, centrada no conteúdo, sem uma proposta de interatividade ou colaboração.
- O
modelo interativo - apresenta como característica
principal uma forte participação do professor ou tutor, e a presença de
atividades planejadas de forma a acompanhar o desempenho dos alunos. A
intervenção do professor surge como forma de auxiliar o aprendizado e,
nesse contexto, existe muita discussão e participação dos alunos. O
conteúdo pode trabalhar os principais conceitos, abordando-os de forma
simples e objetiva, de modo a explorar questões que incentivem a interação
de todos. Além disso, existe a possibilidade de explorar materiais
complementares, instigando a iniciativa dos alunos de buscar novas
informações, e, até mesmo, trazendo questões para colocar aos colegas do
grupo. Nesse sentido, os conteúdos apresentados têm o objetivo de
“envolver e são desenvolvidos no decorrer do curso, a partir de opiniões e
reflexões dos participantes e com as idéias formuladas nas áreas de
discussão” (Okada, 2003, p. 275). Para a dinâmica deste modelo torna-se
fundamental formar turmas (grupos) de modo que esses grupos possam
interagir. Além disso, é necessário prever uma estrutura para atendimento
e acompanhamento dos alunos no processo de ensino-aprendizagem, com
estratégia que promova a discussão e a participação.
Vale ressaltar que, no que diz respeito à preparação dos conteúdos a serem trabalhados, a tarefa enfrentada pela equipe de educadores na modalidade a distância não é tão distinta daquela enfrentada pelos educadores que trabalham na modalidade presencial. Segundo Mercer e Estepa (2001, p.23), em ambas as equipes de docentes, existe a necessidade de preparar um curso que desenvolva temas relevantes para uma determinada disciplina, implementar propostas pedagógicas adequadas a cada contexto e necessidades dos estudantes e conceber propostas de avaliação e desempenho destes.
- O
modelo colaborativo prevê atividades colaborativas como
estratégias de aprendizagem. O professor é um auxiliador do processo de
interação entre as comunidades que se formam no processo educativo. Nesse
sentido, destacamos o papel do professor como “orientador e desafiador”,
numa perspectiva em que, este deixa de ser apenas um provedor de
informações e passa a ser um gerenciador de entendimento. Segundo Ramos
(2005) ao citar Andrade e Beiller (1999), o papel do professor é motivar o
grupo e monitorar a participação dos alunos, considerando os objetivos e
interesses coletivos.
Quanto ao conteúdo a ser trabalhado nesse modelo, o destaque está associado a propostas de desafios, que venham incentivar a discussão e a produção do conhecimento no grupo de estudo. Vale ressaltar que para promover a colaboração torna-se necessário prever a formação de turmas de modo que os alunos possam interagir, visando trocas de informações, experiências e expectativas, propondo soluções e aprimorando o conhecimento.
Nas experiências que visam à construção colaborativa, cada sujeito passa a participar efetivamente da produção de conhecimento, saindo da condição de receptor passivo, e passando a valorizar seus conhecimentos e experiência de vida. Nessa perspectiva emerge uma educação para a cidadania, com sujeitos que constroem, modificam, buscam a sua cidadania, são co-autores em seu processo de aprendizagem.
Este último modelo é
mais condizente com a perspectiva da EAD no contexto da cibercultura, onde
emergem possibilidades de comunicação multilateral todos-todos; de uma educação
hipertextual e não-linear, em que cada sujeito tem a possibilidade de fazer
suas escolhas e construir os caminhos mais adequados à sua formação; de uma
educação que promova a multivocalidade, em que cada voz pode ser a sua própria
ou a do outro e não mais apenas daquele que detêm o poder; com possibilidade de
autoria, de abertura de conteúdos, de acesso como liberdade.
A educação online e Novas Educações
Ao falar em educação online entendemos
que com o advento das tecnologias, esta apresenta-se no contexto da EAD como
uma oportunidade de atingir um público maior e diferenciado. Nesse sentido,
faz-se necessário pensar em educação a distância, de forma a associar a uma
concepção metodológica pautada na interação e na construção do conhecimento de
forma colaborativa,enfatizando que o aprendente é o centro do processo.
Com o uso intensivo das tecnologias da informação e
comunicação ampliou-se a ação da EAD, de modo a intensificar o processo de
ensino-aprendizagem, assim como ficou mais evidente a necessidade de maior
autonomia e autoria por parte dos sujeitos envolvidos, por meio da interlocução
entre os sujeitos, o ambiente e as tecnologias. Assim, trazemos para esse
contexto a questão da interatividade com os ambientes virtuais de aprendizagem
potencializando atividades com práticas colaborativas, com espaços de escritas
hipertextuais e que tem marcado de forma significativa a educação online.
Segundo Lévy (1994), a interatividade pode ser
compreendida como a possibilidade dos sujeitos participarem ativamente,
interferindo no processo com ações, reações, intervindo, tornando-se receptor e
emissor de mensagens que ganham plasticidade, permitindo a transformação
imediata. Em outras palavras podemos dizer que a interatividade cria novos
caminhos, novas trilhas, novaspossibilidades, fazendo valer as escolhas dos
sujeitos.
Além disso, podemos destacar também os conceitos
relacionados à educação online, no sentido de superar a lógica do uso das TIC
apenas como instrumento e/ou ferramentas, e sim, que possam ser entendidas como
fundamento, integrando o contexto de ensino-aprendizagem. Numa perspectiva de
que não basta introduzir nesse contexto a presença das TIC ou mesmo todos os
recursos midiáticos para se alcançar uma “nova educação”. Segundo Pretto (1996,
p.112) “é necessário repensá-la em outros termos. (...) uma vez que essa
presença, por si só, não garante essa nova educação”.Podemos pensar, portanto, em "novas
educações", onde torna-se necessário "retomar a discussão sobre o
que se entende como sendo usos dessas tecnologias e quais as possibilidades
para a educação, seja ela presencial ou a distância" (Bonilla e Assis,
2005). Além disso, essas mesmas autoras complementam afirmando que ao pensar em
"novas educações", significa pensar em ampliar a participação na
produção e circulação de conhecimento. Sendo assim, torna-se fundamental buscar
as possibilidades e potencialidades do uso dessas tecnologias, como “elementos
carregados de conteúdos, como representantes de uma nova forma de pensar e
sentir”(Pretto, 1996, p.115).
Essa educação está fundamentada numa perspectiva de
aprendizagem na dimensão de Redes, que acontece de forma paralela, integrante
e integrada com o conjunto das atividades. Possibilitando a multiplicidade de
troca, o acesso a conteúdos em diversos formatos, com o prolongamento do tempo
de discussões, e, sobretudo, estreitando a fronteira entre o
virtual/presencial. De modo que as TIC possam estruturar ambientes colaborativos
de aprendizagem e não apenas ser tomadas como meras fontes de consumo de
informação.
Em suma, podemos dizer que esse processo
desencadeia alguns "nós"previamente delineados, com novas e
constantes possibilidades. Que nesse caminho, o fundamental é poder estabelecer
conexões e construir coletivamente. Vale destacar, que essa concepção não se
resume em mais um novo modelo pedagógico, pois, se pensarmos dessa forma,
estaríamos limitando tais possibilidades e sujeitando os aprendentes ao lugar
de receptores.
(Este texto foi extraído do Site: Universidade
Federal da Bahia <http://www.moodle.ufba.br/>. Curso: Curso Moodle
para professores - 2007)
Achei muito Interessante, o lido, até aqui - teoricamente falando - mas creio que o não tratar parte dos "problemas e dificuldades" que ferramentas deste tipo de ensino por EAD podem também produzir, foi um problema deste material.
ResponderExcluirSe por um lado concordo com praticamente todo o conteudo até aqui trazido e revisado. Por outro me incomodou, e não sei se lograrei explicar bem o que penso. Mas tentarei desenvolver um pouco o ponto,
Eu penso que ao envez de produzir chances de uma maior participação e colaboração como parece ser sugerido (o que certamente sei que é possível) a tendência mais comum possa ser mais o oposto, ao meu ver.
Incomodou-me um pouco sentirme estar sendo "endoutrinada" pelo material selecionado e como foi organizado, nos tentando transmitir a mensagem de que o EAD seja um modelo ideal para desenvolver novas ferramentas de TICs (as que são mais do que bem vindas e se justificam, certamente, no contexto sendo vivido atualmente de distanciamento e isolamento social), como se tentassem nos vender a imagem somente das "vantagens" e nos ocultassem os seus "problemas", especialmente se partirmos de metodologias mais abertas e colaborativas de aprendizagem (sempre fui adepta delas, e as uso inclusive em meus cursos presenciais), mas de um modo que me parece ser meio problemático e superficial, como sendo trazido toda esta discussão.
Por outro lado me parece que se parte de um suposto complicado, ao meu ver, de que a comunicação por estes meios possa ser "potencializada ao máximo", quando desconfio que o que tenda a ocorrer possa vir a ser mais bem o oposto, em grande maioria dos casos, e mais ainda em cursos e situações de aprendizagem deste tipo?. Porque o digo? seguindo em parte alguns pontos do pensamento do filósofo alemão Niklas Luhmann, que contesta teorias de ação comunicativa do Habermas, penso que "as chances" do entendimento e interação (ou condições ideiais de fala)tendem mais a "fracassar", do que a permitir que ela aconteça de um modo pleno e ideal no dia a dia... quanto mais, em se tratando de situações como as que iremos enfrentar. Creio eu que em cursos por EAD (mesmo que mediados pr encontros com algum tipo de presencialidades on-line), muito mais do que em aulas de modo totalmente presencial, teremos mais ruidos do que possibilidade de uma boa e efetiva comunicação. Se já é por demais complicado o bom entendimento na interação face a face, e quando mais dos nossos sentidos estão a nossa disposição para ler e decifrar o que vem dos outros e das nossas interações cara a cara, penso que neste tipo de meios "o RUIDO"/ -de todos os tipos, e por falta de habilidade de professores com toda esta tecnologia também, mas também a falta real de interesse e comunicação verdadeira dos alunos, que apagarão microfones e câmaras e falaremos conosco e nossas imagens, poderá ser aumentada e será mais dificil de decifrar o que esteja a ocorrer. Mas certamentes são esses alguns dos problemas para os que também precisamos nos preparar um pouco mais durante este próximo SLS.